Policial do AC que perdeu olho ao levar tiro em rebelião segue em tratamento após 2 anos: 'Descaso'
07/09/2025
(Foto: Reprodução) Policial penal que levou tiro no olho continua fazendo tratamento de saúde no AC
A vida do policial penal Janilson da Silva Ferreira mudou drasticamente há mais de dois anos. Em julho de 2023, ele foi baleado durante uma rebelião no Presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro, em Rio Branco. Os estilhaços atingiram o olho direito.
Por conta do ferimento, o servidor público perdeu o órgão. Desde então, ele segue em tratamento de saúde, ainda sente dores no olho e teve dificuldade financeira com a família. "O tiro não foi de raspão. A munição de fuzil 5,56 mm atravessou o escudo balístico e os estilhaços atingiram meu olho, causando a lesão”, relembrou ao g1.
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A rebelião na unidade de segurança durou mais de mais 24 horas, e teve fim no dia 27 de julho. Com pausa, a negociação com os presos que mantinham um policial penal refém, durou cerca de 16 horas. Cinco presos, membros de uma facção rival aos rebelados, foram mortos no conflito. Destes, três tiveram a cabeça arrancada.
Janilson e um detento ficaram feridos na rebelião. Primeiramente, foi informado que o policial havia sido atingido por um tiro de raspão no olho. Porém, o tiro atravessou o escudo que ele utilizava e os estilhaços causaram a lesão no olho.
"Fiz uma tomografia, um mapeamento cerebral e foi detectado uma alteração. Estou precisando de ajuda financeira nesse momento, pois sinto muita dores na cabeça e no olho que perdi. Atualmente só não estou passando necessidade porque alguns amigos estão ajudando, mas não está sendo o suficiente. Tenho casa financiada, dois filhos e dois enteados", contou.
Ele revelou que vai viajar para São Paulo no próximo domingo (7) após os médicos perceberem uma alteração em seu cérebro.
"Agora terei que fazer enxerto. A Secretaria de Estado de Saúde [Sesacre] conseguiu através do Tratamento Fora do Domicílio (TFD) as passagens para que eu possa ir. Porém, falaram que não têm convênio com São Paulo, daí tenho que arcar com estadia e deslocamento lá. Não consegui ajuda de custo", disse ele.
Dificuldades
Após o acidente, Janilson recebeu ajuda de parlamentares para fazer o primeiro tratamento em São Paulo, dois meses depois. Atualmente ele faz tratamento de plástica ocular. Em abril, passou por um transplante de supercílio e pagou pela prótese ocular.
Ainda conforme o policial, por conta do esforço que faz para enxergar, o olho esquerdo treme bastante e fica muito irritdo.
"Fica tremendo igual uma lâmpada querendo queimar. Agora tenho 1,25 grau e a cada seis meses tenho que fazer mapeamento da retina. A medicina não tem como saber se daqui a alguns anos irei ficar cego ou com algum problema neurológico", afirmou.
Tomografia mostra estilhaços de bala que atingiram o rosto do policial penal no Acre
Reprodução
Afastamento
Janilson está afastado por motivos de saúde desde julho deste ano. O servidor até tentou retornar ao trabalho, ficou um mês e se afastou das funções. "Estou afastado para tratamento de saúde e verificando a possibilidade de aposentadoria sem perdas, mas até agora não consegui ter uma resposta", pontuou.
Antes do acidente, o policial penal também trabalhava em outras atividades nas horas vagas. Isso ajudava a aumentar a renda da família. Por conta do acidente, ele não consegue mais fazer esses trabalhos.
"Eu era serralheiro, carpinteiro, fazia serviço de pedreiro, serviço de cobertura, mexia com calha. Eu sou criado no campo, então, trabalhava também como agente de vacinação, castração de bovinos, todo serviço da área agropecuária e rural eu fazia. Tive uma vida bastante ativa, mas agora não posso mais", lamentou.
Janilson contou que, no dia da rebelião, ele e os colegas fizeram o impossível. Mesmo assim, não receberam o reconhecimento que esperavam. "Precisamos que alguém valorize essa luta. Nós já estamos lutando, o que falta é que alguém honre essa luta, para conseguir que de fato essa luta proteja o povo brasileiro", criticou.
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Com 13 anos de carreira, o servidor público acredita que o curso de operações penitenciárias especiais, feito em 2022, foi essencial para sua sobrevivência durante a rebelião.
"Minha ação e dos demais policiais evitou que ali tivéssemos uma tragédia sem precedentes, evitamos uma fuga de criminosos armados com fuzis de um presídio federal de segurança máxima. Não é qualquer um que tem coragem de enfrentar essa situação e nós tivemos. No final somos esquecidos, principalmente quando mais precisamos, o sentimento é de abandono e descaso", alegou.
Janilson lamentou que seu treinamento não o tenha salvado de perder um olho e pontua que não há equipamento de segurança para a categoria. "No dia do acidente a gente não tinha capacete balístico, nem óculos de proteção. Era para ter equipamento especial, mas não tínhamos", assegurou ele.
Policial penal atingido por estilhaços de bala precisa de novo tratamento
Arquivo pessoal
'Sentimento é de abandono e descaso'
Com dificuldades financeiras, Janilson teme que a situação fique ainda pior nos próximos meses, quando estiver em tratamento em São Paulo.
"Meu salário não está dando para cobrir as despesas básicas, os gastos são muitos e parece que meu salário irá ser cortado pela metade, o que torna a minha situação pior, pois nesse momento estou precisando de toda ajuda", lamentou ele.
O g1 entrou em contato com o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen) para saber qual tipo de ajuda Janilson recebeu e o órgão informou que em relação à saúde, 'o servidor recebeu acompanhamento do Centro Integrado de Apoio psicossocial (Ciab) e foi encaminhado para consulta oftalmológica, além de ter respeitado os atestados que apresentou'.
"O servidor não teve nenhuma perda salarial. Todos os seus direitos foram mantidos. Já questões de aposentadoria quem determina é a junta médica do estado. Até o momento não chegou ao Iapen nenhuma determinação neste sentido", informaram.
VÍDEOS: g1